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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

CAMPOS DE CONCENTRAÇÕES





CAMPO DE CONCENTRAÇÃO NO CEARÁ

No início do século 20, no Ceará, os poderes públicos estadual e federal criaram campos de concentração para evitar que flagelados famintos fugindo do sertão semi-árido chegassem a Fortaleza
por Xico Sá
"E você tem visto muito horror no campo de concentração?”, pergunta o sertanejo Vicente a Conceição, personagens do romance O Quinze, da escritora Rachel de Queiroz. Os dois conversam não sobre as prisões nazistas construídas durante a Segunda Guerra Mundial, ou seja, quase três décadas depois. O diálogo diz respeito aos currais erguidos no Ceará pelos governos estadual e federal para isolar os famintos da seca de 1915, considerada uma das mais trágicas de todos os tempos no Nordeste.
O objetivo dos campos era evitar que os retirantes alcançassem Fortaleza, trazendo “o caos, a miséria, a moléstia e a sujeira”, como informavam os boletins do poder público à época. Naquele ano, criou-se o campo de concentração (era assim mesmo que se chamava) do Alagadiço, nos arredores da capital cearense, cenário do livro de Rachel, que chegou a juntar 8 mil esfarrapados, que recebiam alguma comida e permaneciam vigiados por soldados. A segregação dos miseráveis era lei, mas chegou um momento em que o flagelo em massa era tão chocante, com uma média de 150 mortes diárias, que o governo do Estado ordenou, em 18 de dezembro 1915, como contam os arquivos dos jornais da época, a dispersão dos flagelados, ou “molambudos”, como eram também conhecidos.
Segundo o historiador Marco Antonio Villa, autor de Vida e Morte no Sertão, durante a seca de 1915 teriam morrido pelo menos 100 mil nordestinos. Outros 250 mil migraram para escapar da “velha do chapelão” – como a fome era conhecida no imaginário do semi-árido.
O medo das autoridades diante dos flagelados da seca tinha um antecedente. Em 1877, uma leva de cerca de 110 mil famintos saiu dos sertões e tomou as ruas de Fortaleza, assombrando os moradores que viviam a ilusão, importada de Paris, de urbanismo e civilidade. No livro A Fome, o mais consistente relato sobre o cenário de 1877 nas ruas da capital, o cientista social e escritor Rodolfo Teófilo assim descreve o que viu: “A peste e a fome matam mais de 400 por dia! O que te afirmo é que, durante o tempo em que estive parado em uma esquina, vi passar 20 cadáveres: e como seguem para a vala! Faz horror! Os que têm rede, vão nela, suja, rota, como se acha; os que não a têm, são amarrados de pés e mãos em um comprido pau e assim são levados para a sepultura. E as crianças que morrem nos abarracamentos, como são conduzidas! Pela manhã os encarregados de sepultá-las vão recolhendo-as em um grande saco; e, ensacados os cadáveres, é atado aquele sudário de grossa estopa a um pau e conduzido para a sepultura”.
Memórias do horror
O ano da graça de 1915, relatado na ficção de Rachel de Queiroz, sertaneja da fazenda Não Me Deixes, no município de Quixadá (CE), seria apenas o ensaio da segregação estatal dos miseráveis. Em 1932 é que o modelo de isolamento iria vingar para valer. Na “seca de quinze” – como era chamada a estiagem – ainda não existia sequer a famosa “indústria da seca”, como se convencionou chamar a ajuda do poder federal às oligarquias nordestinas – diante das ameaças de saques e violência das legiões de famintos, os grandes proprietários de terra sempre chantagearam o governo federal, principalmente a partir dos anos 1930, alocando recursos para a região que na maioria das vezes acabavam se revertendo em benefício das próprias elites.
“De longe eu sentia o cheiro de podridão, chegava a tapar as ventas. Era tão forte o fedor que é como se eu o sentisse hoje, mesmo eu estando com a memória fraquinha, fraquinha”, diz Manuel Conceição Rodrigues de Sá, 87 anos, um rapaz de 15 anos durante a seca braba de 1932. Hoje, ele mora no subúrbio de Juazeiro do Norte, no Ceará, terra do Padre Cícero, personagem que já era celebrado como santo naquele tempo, pelas levas de famintos que buscavam por sua bênção. Manuel morava, então, no município de Serra Talhada, em Pernambuco. Trabalhava como tropeiro – tocava burros com carregamentos de cachaça dos engenhos da região do Cariri, no sul do Ceará, para municípios de Pernambuco e da Paraíba. “Era num sítio ali perto do Crato, só vi uma vez de perto o campo de concentração, nunca mais tive coragem de passar junto. Pense num desmantelo! Gente apodrecendo de verdade, pareciam uns urubus quando o governo mandava comida”, afirma o ex-mascate.
O cearense do Cariri Miguel Arraes de Alencar, nascido em dezembro de 1917, na cidade do Araripe, governador de Pernambuco por três mandatos, guarda também lembranças do campo de concentração do Crato, onde morou sua família. “A seca braba de 32 é muito forte em minha memória. Um dia, quando ia estudar, me deparei com três homens presos. Eram flagelados do curral da concentração. Foram presos como desordeiros, só porque ficaram revoltados com as injustiças na distribuição de comida por lá”, afirmou Arraes em conversa com este repórter, em 2002. “É uma lembrança que guardo para sempre, as histórias vindas de lá eram um horror danado.”
Pelo campo de concentração do Crato passaram cerca de 65 mil pessoas durante aquela estiagem. Ali, o governo prometia comida, água, assistência médica e oferta de trabalho. Pouco disso, no entanto, acontecia. Não havia água tratada, nem comida para todos e muita gente morria de fome ou doença e era sepultada ali mesmo. O campo se tornou um foco de tudo o que é infecção. Em alguns dias, o número de mortes de famintos alcançava a marca de 200. Há registros de pelos menos outros cinco currais no estado do Ceará, localizados em Quixeramobim, Senador Pompeu, Cariús, Ipu, Quixadá e o último nos arredores de Fortaleza, como derradeira tentativa de evitar que os famintos convivessem com a população da capital.
"Eram locais para onde grande parte dos retirantes foi recolhida a fim de receber do governo comida e assistência médica. Dali não podiam sair sem autorização dos inspetores do campo. Havia guardas vigiando constantemente o movimento dos concentrados. Ali ficavam retidos milhares de retirantes a morrer de fome e doenças’’, diz a historiadora Kênia Rios, da PUC-SP. As estatísticas oficiais, que não conseguiam abarcar todos os alistados nos “currais”, dão conta de 73918 “molambudos” nas seis áreas de confinamento – 6507 em Ipu; 1 800 em Fortaleza; 4 542 em Quixeramobim; 16 221 em Senador Pompeu; 28648 em Cariús e 16200 no Crato, conforme uma das melhores fontes sobre o assunto, o livro Campos de Concentração no Ceará – Isolamento e Poder na Seca de 1932, de Kênia Rios.
Um sobrevivente da segregação é Antonio Siqueira da Silva, de 90 anos, que tinha 18 anos quando foi “jogado” com a família – pai, mãe e mais 12 irmãos – no “curral dos flagelados” do Crato. A família havia mudado do município de Quebrangulo, terra do escritor Graciliano Ramos, para Juazeiro do Norte, cidade hoje emendada ao Crato, em 1930. “A gente veio por causa dos milagres do meu padim Ciço. Só se falava nas obras do ‘meu padim’ por esse mundão todo afora. Ai meu pai pegou a penca de menino, botou em cima dos burros, e chegamos aqui em Juazeiro, pois lá nas Alagoas não tinha mais como viver que preste”, diz Silva, em depoimento para o projeto Nova Geografia da Fome, do Centro Cultural Banco do Nordeste. “Chegando aqui o meu padim nos botou lá no sítio do beato Zé Lourenço, onde tinha muita fartura. O mundo todo sem nada para comer e o beato lá dando de comer a todo mundo, até irrigação já tinha.”
Seguidor do padre Cícero, Lourenço (1872-1946), nascido na Paraíba, chegou a abrigar cerca de mil pessoas no começo dos anos 1930. Conhecida como o Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, a comunidade foi destruída e bombardeada – a primeira vez que as Forças Armadas usaram aviões para um massacre no Brasil – em 1937, por ordem do ministro da Guerra Eurico Gaspar Dutra, durante o governo de Getúlio Vargas. O poder central, insuflado pelas autoridades cearenses, temia que o beato pudesse transformar o seu vilarejo em mais um Canudos, episódio que ainda assombrava os militares. No massacre, teriam morrido cerca de 700 pessoas. Lourenço escapou, fugindo pela Chapada do Araripe. Doente, morreria nove anos depois, em Exu (PE), município nas cercanias do Crato.
“O sítio do beato foi ficando cheio de gente demais, ai meu pai achou melhor a gente escapar da fome lá no ‘curral dos flagelados’, pois o governo prometia muita esmola por lá”, diz o sobrevivente do campo de concentração Antônio da Silva. “Mas quem disse que as esmolas chegavam? Lá perdi foi seis irmãos, de fome braba. Eu mesmo só escapei porque fugi com o resto, de madrugada, ainda lembro como se fosse hoje. Era uma catinga tão feroz, meu filho, que nem dava pra dormir direito. E os urubus em cima, querendo arrancar as tripas dos falecidos.”
A história das secas que castigam a população do Nordeste desde pelo menos 1877, deixou um rastro de tragédias e mortes assombroso. Nunca foi feito um levantamento a respeito dos números de nordestinos que perderam as vidas por causa da fome nestes períodos. Os levantamentos parciais, no entanto, são assustadores. Somente entre 1877 e 1913, portanto ainda sem os números da seca de 1915, o governo federal, por intermédio do IOCS estimava que 2 milhões de pessoas haviam morrido em conseqüência da miséria nas estiagens. Pouco mais de 100 anos depois, a equipe do livro Genocídio do Nordeste (organizado pela Comissão Pastoral da Terra e o Ibase, entre outras organizações) repetiu o desafio de contar as vítimas da seca e chegou ao número de 3,5 milhões de mortos somente no período entre os anos de 1979 e 1984.

Da frigideira para o fogo
Cearenses foram pararnas trincheiras da revoluçãoem São Paulo
Em 1932, enquanto a seca castigava o sertão, uma guerra era travada a 3 mil quilômetros dali. Em São Paulo, tropas revolucionárias enfrentavam o Exército brasileiro num levante contra Getúlio Vargas, que assumira a presidência em 1930. Quando a luta apertou, os governos federal e estadual, que criaram os campos de concentração no Ceará, convocaram seus ocupantes para engrossar o caldo contra os paulistas. Para quem estava faminto e desabrigado, servir o Exército não parecia ser tão ruim. Sem ter a menor noção do que enfrentariam, muitos seguiram de navio e caminhão para as trincheiras de São Paulo. O escritor paraibano José Américo de Almeida, ministro da Viação, responsável pela política de combate à seca no Nordeste, foi um dos defensores da medida: “O Norte veio para a trincheira impelido pela gratidão e pelo instinto de conservação, pois só no Ceará o Ministério da Viação deu trabalho a 100 mil homens e 500 mil brasileiros foram salvos da fome”, disse, na época, ao jornal O Povo, de Fortaleza. Segundo o jornal, em 19 de agosto, pouco mais de um mês do início dos combates, já haviam sido enviados pelo menos 1 200 cearenses para a linha de fogo. Entre eles, crianças e idosos. “O apoio da nova oligarquia nordestina a Vargas materializou-se na formação de batalhões de voluntários, boa parte constituída por retirantes, inclusive crianças e adolescentes”, diz o historiador Marco Antonio Villa no livro Vida e Morte no Sertão. O Povo registrou os sofrimentos desses nordestinos em São Paulo, “submetidos às mais duras humilhações”. O jornal relatou que na capital paulista a população provocou depredações e incêndios em lojas cujos proprietários eram migrantes do Ceará. No seu livro, Villa conta que os soldados da seca não tinham treinamento adequado para quem ia a uma guerra, nenhuma experiência militar e até o fardamento que utilizavam era inadequado para a região, o que fazia a tropa passar muito frio. Porém, não há estatísticas sobre o número de vítimas nordestinas na guerra vencida por Getúlio, mas estima-se que menos da metade retornou ao Ceará.
Fome no campo
Meu avô presenciou a morte do irmão
Xico Sá
“Seco, meu Deus, só o fiapinho de gente, despencou em cima da carroça [carrinho de mão], já se tremendo todinho e ali mesmo morreu”, contava João Patriolino de Menezes, meu avô, sobre a morte do irmão, Francisco, durante a construção de um açude na Batateira, nos arredores da cidade do Crato, no Ceará. Chico Patriolino, como meu tio era chamado, nascido no vizinho município de Exu, em Pernambuco, era um dos alistados do campo de concentração do Cariri, o maior do território cearense. Tinha 22 anos quando foi vítima da tragédia. Meu avô João escapou por ter sido “adotado” pelo coronel pernambucano Manuel Alexandre de Sá, a quem servia como jagunço em uma tropa que chegou a ter 120 homens e que, em duas oportunidades, em 1926, invadiu a cidade de Santana do Cariri (CE) para tentar depor o prefeito, outro coronel, Felinto da Cruz Neves, também com fortes ligações com o cangaço. No primeiro confronto foram dez horas de troca de tiros, no segundo, 36 horas de conflito, conforme relata o livro Guerreiros do Sol, do historiador Frederico Pernambucano de Mello, da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife. Nos dois combates, o bando de Sá acabou recuando. “Quando comecei a comer direito, quase morro também, pois o corpo não estava acostumado. Passava sempre mal até me acostumar”, afirmava ele, morto em 1991, aos 75 anos. “Madrinha Zefinha [mulher de Sá] foi me cevando aos poucos, pois eu era só a grade de gente.” Chico e João saíram da casa dos pais, em Exu, para tentar escapar da seca braba de 1932. Dos 12 irmãos, meu avô só voltaria a encontrar sua irmã Rudá, ainda viva, aos 89 anos, residente em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo. “Soube que morreu um bocado, naquela seca mesmo”, era tudo que dizia João quando indagado pelos parentes sobre o restante dos seus irmãos. “E eu, que escapei da fome, por muitas vezes estive pra morrer de bala. Era assim naquele tempo. Sobreviver nessas duas guerras foi um milagre de meu Padre Cícero do Juazeiro, só sendo, pois eu vi a velha da foice umas 200 vezes.”

SECA DE 1932




















O PESADELO DA SECA



No alto de uma colina esturricada pela seca no município de Senador Pompeu, sertão do Ceará, as ruínas de uma antiga vila operária escondem um pedaço da História do Brasil que poucos cearenses gostam de contar. Erguidos em 1919 para abrigar operários e engenheiros ingleses que construiriam ali um açude de grande porte, os casarões tornaram-se palco de doença e morte. Durante a impiedosa seca que assolou a região em 1932, a Vila dos Ingleses sediou um campo de concentração para o confinamento de flagelados. O gueto era vigiado por soldados, como em uma guerra. O objetivo era isolar os retirantes e evitar a invasão das grandes cidades pela miséria e por epidemias.

Moradores de Senador Pompeu, hoje com 27 mil habitantes, resolveram ajudar a desenterrar o episódio na tentativa de atrair a atenção e verbas do governo federal para a região, outra vez castigada pela seca. A estiagem já dura dois anos. Há algumas semanas, visitou o local um enviado da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, o advogado Carlos Moura, encarregado de recolher vestígios desse triste passado. Missão relativamente simples: a lembrança do cárcere permanece viva na memória dos 15 sobreviventes que lá ainda residem. "Comíamos a cera que escorria das velas na esperança de não morrer de fome, pois a maior parte da comida doada pelo governo estava estragada e o pouco que chegava em condições de consumo era roubado pelos guardas", recorda um deles, Guilherme Sabino da Silva, de 74 anos. Sua mulher, Maria de Jesus, que o conheceu criança na Vila dos Ingleses, afirma que os dois só não morreram de fome "porque Deus não quis". O casal teve 14 filhos, nove já morreram e os cinco restantes estão desempregados.

A morte era rotina nos chamados "currais da fome", criados pelo governo de Getúlio Vargas sob o disfarce de obra social para distribuir alimento. Ao todo, em 1932, construíram-se sete quartéis no Ceará e no Piauí, para onde foram levados 70 mil flagelados. A Vila dos Ingleses, em Senador Pompeu, era o maior deles - das 17 mil pessoas que passaram por lá, pelo menos mil morreram de fome e doenças. Sob o sol escaldante e sem nenhuma água, milhares de famintos com cabeça raspada, para evitar piolhos, eram obrigados a descarregar o alimento enviado de trem pelo governo. A maior parte chegava estragada, como testemunharam Guilherme Sabino e Maria de Jesus, e os melhores cortes de carne iam para a cozinha dos militares. Para os retirantes, sobravam somente o sangue, o coração e os bofes dos bois. A sopa era preparada com mato e goma (amido de mandioca). As crianças comiam rapadura e morriam de diarréia. "O feijão era tão duro e ruim que ganhou o apelido de Zé Félix, nome do mais truculento guarda do campo de concentração", recorda Maria de Jesus.

À noite, luzes de holofotes vigiavam as vias de acesso e o comportamento dos "prisioneiros", amontoados em barracos feitos com gravetos secos e estopas cortadas dos sacos de comida. "Alguns guardas deixavam namorar num quartinho escuro, o mesmo usado para açoitar os desobedientes", lembra Maria Perpétua Vieira, de 75 anos. Seu avô era coveiro e guarda do cemitério. Os doentes não podiam sair do gueto. Rezas, choros e lamúrias cortavam a madrugada, denunciando o desespero dos famintos. Muitos morriam - cerca de 20 por dia -, e os cadáveres eram enterrados às pressas em valas para evitar o ataque de cachorros e urubus.

O horror daqueles dias só não se perdeu na História graças à Companhia Art-Cultura Metade de Nós, um grupo de estudantes e profissionais liberais de Senador Pompeu. Há dois anos, eles trabalham na localização de sobreviventes e na recuperação de documentos históricos. O acervo será guardado num museu a ser instalado nas ruínas de quatro casarões ainda de pé na localidade - um deles a antiga casa de pólvora onde os ingleses da Dwight P. Robson & Co. guardavam os explosivos usados na construção da Barragem do Patu.

A barragem, com a qual seria criado um mega açude para distribuição de água, teve as obras interrompidas em 1923 por falta de verbas. Retomadas em 1986, formaram apenas um pequeno lago, que hoje praticamente só serve para embelezar a paisagem. "A água do açude não abastece todas as casas nem é usada para irrigar as lavouras, destruídas pela atual estiagem", lamenta Flávio Alves, diretor do documentário Cerca Seca, recém-filmado na região com a participação de 283 atores e figurantes locais. As pragas e as secas destruíram tudo em Senador Pompeu, grande produtor de algodão no século passado. Em 1932, a questão social tornou-se crítica porque choveu 58% a menos que o normal. Mas a seca atual é pior que a do período do campo de concentração. O agricultor João Batista Marcelino, de 50 anos, cultiva a roça ao lado do açude. Sem ter como captar água, perdeu toda a plantação de milho e feijão. "O problema não é a sede, mas chuva para podermos plantar e comer", afirma, rezando por uma solução que caia do céu.

Sérgio Adeodato, de Senador Pompeu

TRIBUTOS A SENADOR POMPEU


















Minha doce e amável Senador, berço
Das minha saudades, insipiência da
Minha mais tenra infância...
Menina matuta de pureza angelical;
Que de brenhosa transformastes mulher,
Fostes tu, regozijo dos meus prazeres Múltiplos ;
Fostes em ti menina moça Mulher
Que aprazível dei meus Primeiros passos e
Foi em teus seios fartos que ávido
Pude saborear o colostro do apego,
Desde então nosso pacto de vício
Tornousse imaculado. Ah!
Minha meiga mulata de brio Veemente
De cabelos vivos em ébanos banhado;
Menina donzela que das entranhas
Diáfano do riacho Codiá vieras nascer...
Só para te cantarei Meus versos,
Sejam eles alegres, ou Lúgubres,
E tão somente á ti dou
Merecimento de acolher-me em
Repouso eterno.


Eeste poema é uma dedicatória a minha querida cidade Senador Pompeu-CE


Todos direitos Reservados ao Autor Francisco Vantuilo Gonçalves
Vantuilo Gonçalves

CAMINHADA DAS ALMAS

















Os caminheiros se reúnem antes das 5 horas na igreja matriz de Nossa Senhora das Dores e, quando o sino tocar, saem na direção do cemitério da Barragem do Patu cantando hinos religiosos. É mais uma Caminhada da Seca lembrando os flagelados e os que morreram no Campo de Concentração de Senador Pompeu, município que fica a 291 quilômetros de Fortaleza. A multidão caminha 3,2 quilômetros, mas há paradas em determinados pontos.

A caminhada se realiza há 26 anos e, cada vez mais, reúne um maior número de pessoas que relembram o flagelo de 1932: os confinados, as vítimas da epidemia de cólera, os que foram enterrados em um cemitério improvisado que ficou conhecido como Cemitério da Barragem. O local é considerado santo pelos participantes que serão acompanhados por padres e religiosos. Nas paradas, os sacerdotes e leigos farão leituras bíblicas e os sobreviventes da seca de 32 farão seus depoimentos.

Muitos crêem e fazem pedidos de graças às "almas da Barragem" e, durante a caminhada, fazem agradecimentos por seus pedidos atendidos. Segundo o padre João Paulo, o objetivo da caminhada é, principalmente, lembrar que ali existiu um campo de concentração e rezar pelos que ali padeceram. As pessoas que participam são de Senador Pompeu e outros municípios do Sertão Central. O campo de concentração já foi objeto dos mais variados estudos, livros e produção de arte. Ali, quando chegam, os fiéis acendem velas e fazem orações.

No cemitério da Barragem estão 1.500 corpos dos 16.221 retirantes, aprisionados no campo de concentração de Senador Pompeu. Conta-se que foi o padre italiano, Albino Donatti, que começou a caminhada, mas já havia a devoção do povo pelas almas dos flagelados. A peregrinação é realizada, anualmente, no segundo domingo de novembro.

SAIBA MAIS

> A seca de 1932 foi uma das maiores da história do Ceará. Fome e doenças como cólera, febre amarela e varíola marcaram aquele povo sofrido pela sede e fome. Senador Pompeu foi uma das cidades que abrigou um dos sete campos de concentração, criados pelo governo da época para deter a vinda de retirantes à Fortaleza.

> Diz a crendice popular que o ano terminado no número dois é sempre de seca. O ano terminado em quatro é sempre de enchente. Seguindo essa lógica, 32 só podia ser período de estiagem. Na concentração de Senador Pompeu, passaram a viver milhares de flagelados de diversos municípios cearenses e de outros estados do Nordeste.

> O governo obrigava as vítimas da seca a trabalhar na construção da barragem do açude Patu. No entanto, repentinamente, a obra teve seus trabalhos paralisados e, junto com a paralisação, o governo deixou de manter o posto de saúde e o setor de fornecimento de alimentos que funcionava no campo. Com isso, os retirantes foram adoecendo e morrendo.

> Atualmente, Senador Pompeu é o único município onde se encontra viva a memória do campo de concentração. O cemitério da Barragem do Patu é considerado um espaço sagrado para visitação. Há romarias, pessoas que rezam e pagam promessas. Os moradores acreditam que as almas dos concentrados são milagrosas, porque sofreram muito.

MULHER MORTA EM SENADOR POMPEU












AGRICULTOR EXECUTA A ESPOSA COM GOLPES DE FACÃO

Subiu para 65 o número de mulheres assassinadas, este ano, no Ceará. Na noite de quinta-feira, uma dona-de-casa foi executada pelo marido. O crime ocorreu na localidade de Sítio Riacho do Meio, na zona rural do Município de Senador Pompeu (a 275Km de Fortaleza). Francisca Cavalcante Farias, 61, foi morta a golpes de facão pelo marido, o agricultor José Pinheiro Farias, 59.

O acusado do crime terminou sendo preso, na manhã de ontem, quando chegava ao hospital público de Senador Pompeu apresentando sinais de problemas psicológicos. O delegado-regional da Polícia Civil do Município, Marcos Sandro Lira Nazaré, deu voz de prisão ao acusado e o autuou em flagrante por homicídio triplamente qualificado.

DN

AFOGAMENTO


















AFOGAMENTO EM SENADOR POMPEU-CE

A polícia militar foi até o Sítio São Francisco, distrito São Joaquim, Senador Pompeu, Sertão Central, para verificar uma ocorrência do tipo achado de cadáver, quando os policiais chegarem ao local constataram que um homem havia sido vítima de afogamento, em seguida acionaram o rabecão do IML de Quixeramobim-Ce, para encaminhar o corpo para fazer a necropsia.
Segundo a policia a vitima trata-se de Antonio Bezerra Vieira, brasileiro, casado, agricultor, natural de Senador Pompeu-Ce, nascido aos 10/08/1948, residente Distrito de São Joaquim, Senador Pompeu-Ce.

HOMEM MATA MULHER





















JOVEM E MORTA POR MANÍACO


A jovem Ítala Mara Dias Cavalcante (20) foi assassinada a golpes de faca dentro da Pousada Off-Love, situada na cidade de Senador Pompeu (Sertão Central). Ela estava num dos quartos da pousada acompanhada do aposentado Waldemar Rodrigues da Silva (71).
Segundo informações de funcionários da pousada, gritos da jovem foram ouvidos durante uma discussão entre o casal.
Ítala Mara, ferida, ainda chegou a ser levada para o hospital municipal de Senador Pompeu, mas não resistiu.
A Polícia prendeu em flagrante o aposentado Waldemar Rodrigues que também estava com ferimentos a faca e foi transferido para o Instituto Doutor José Frota, em Fortaleza.
Ele é o principal acusado do crime e está sob escolta policial.

SENADOR POMPEU-CE




















MINHA TERRA, MINHA GENTE


Terras hoje compreendidas no município de Senador Pompeu principiaram a ser povoadas quando da concessão de datas e sesmarias aos desbravadores, pioneiros do Ceará-Grande que levantaram casas de fazenda e dominaram os nativos.
Nos séculos dezessete e dezoito inúmeras foram as concessões de terras das margens dos rios Banabuiú e Codiá, feitas pelos capitães-mores.
Uma das mais importantes foi, sem dúvida, a outorgada aos 27 de março de 1723, pelo então capitão-mor Manuel Francês, aos desbravadores Thomé Callado Gavão e Nicolau de Souza.
Nas terras doadas aos dois pioneiros, três léguas para cada um, nas margens do Codiá, ergue-se atual cidade de Senador Pompeu.
A lei nº 332, de 3 de setembro de 1896, que criou o município, cujo território foi desmembrado do de Benjamim Constant, posteriormente Mombaça, criou também o termo judiciário, com a denominação de Senador Pompeu; a povoação humaitá foi elevada à categoria de vila com aquele topônimo.
No governo do Dr. Pedro Augusto Borges, Presidente do Estado, a vila é elevada à categoria de cidade (lei nº 659, datada de 22 de agosto de 1901).
Em 1919, por provisão datada de 2 de junho, Dom Manuel da Silva Gomes criou a freguesia sob a invocação de Nossa Senhora das Dores.
Senador Pompeu, comarca da segunda entrância desde 1948 (lei nº 213, de 9 de junho) passou a ter mais os distritos de Engenheiro José Lopes e São Joaquim do Salgado (ex-povoado de São Joaquim), criados pela lei nº 1.153, de 22 de novembro de 1951, sancionada pelo Governador Raul Barbosa, que estabelceu a divisão administrativa do Estado para vigorar até 31 de dezembro de 1953.
Formação Administrativa
Distrito criado com a denominação de Senador Pompeu, por ato, de 18-07-1876 e por ato de 18-07-1876 e por lei provincial nº 1786, de 23-12-1878, subordinado ao município de Benjamim Constant.
Elevado à categoria de vila com a denominação de Senador Pompeu, pela lei estadual nº 332, de 03-09-1896, desmembrado de Benjamim Constant. Sede na antiga a povoação de Humaitá. Constituído do distrito sede. Instalado em 08-11-1896.
Elevado a condição de cidade com a denominação de Senador Pompeu pela lei estadual nº 659, de 22-08-1901.
Pelos decretos estaduais nºs de 01-09-1897 e de 23-09-1907, criado o distrito de Miguel Calmon e anexado ao município de Senador Pompeu.
Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município é constituído de 2 distritos: Senador Pompeu e Miguel Calmon.
Por ato estadual de 04-02-1913, é criado o distrito de Tróia e anexado ao município de Senador Pompeu.
Pelo decreto estadual nº 193, de 20-05-1931, o município Senador Pompeu adquiriu o extinto município de Pedra Branca, pois o mesmo foi criado e não instalado, como simples distrito.
Segundo o decreto estadual nº 1156, de 04-12-1933, refere-se a criação do distrito de Girau.
Em divisão administrativa referente ano de 1933, o município aparece constituído de 5 distritos: Senador Pompeu, Girau, Miguel Calmon, Pedra Branca e Tróia.
Pelo decreto nº 1540, de 03-05-1935, desmembra do município de Senador Pompeu os distritos de Pedra Branca e Tróia, para formar o novo município de Pedra Branca.
Em divisões territoriais datadas de 31-XII-1936 e 31-XII-1937, o município é constituído de 3 distritos: Senador Pompeu, Girau e Miguel Calmon.
Pelo decreto estadual nº 448, de 20-12-1938, o distrito de Girau passou a denominar-se Piquet Carneiro.
No quadro fixado para vigorar no período de 1939-1943, o município é constituído de 3 distritos: Senador Pompeu, Miguel Calmon e Piquet Carneiro.
Pelo decreto-lei estadual nº 1114, de 30-12-1943, o distrito de Miguel Calmon, passou a denominar-se Ibicuã.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1950, o município é constituído de 3 distritos: Senador Pompeu, Ibicuã e Piquet Carneiro.
Pela lei estadual nº 1153, de 22-11-1951, são criados os distritos de Engenheiro José Lopes ex-povoado e São Joaquim do Salgado ex-povoado anexado ao município de Senador Pompeu.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1955, o município é constituído de 5 distritos: Senador Pompeu, Engenheiro José Lopes, Ibicuã e Piquet Carneiro e São Joaquim do Salgado.
Pela lei estadual nº 3685, de 12-07-1957, desmembra do município de Senador Pompeu os distritos de Ibicuã e Piquet Carneiro. Ambos elevado à categoria de município.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1960, o município é constituído de 3 distritos: Senador Pompeu, Engenheiro José Lopes e São Joaquim do Salgado.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 31-XII-1963.
Pela lei municipal nº 11335, de 19-06-1987, são criados os distritos de Bonfim e Codia e anexado ao de município Senador Pompeu.
Em divisão territorial datada de 18-VIII-1988, o município é constituído de 4 distritos, além da sede: Engenheiro José Lopes, criado em 1951, São Joaquim do Salgado, criado em 1951, Codiá, criado em 1987 e Bonfim, criado em 1987
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2005.
Gentílico: pompeuense ou senadorense